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Qual a diferença entre dublagem e voz original?

Se tem uma coisa de que o brasileiro se orgulha é de como são feitas as dublagens de produções audiovisuais para o nosso idioma. A Sessão da Tarde que o diga, com clássicos dublados como Um Príncipe em Nova York (1988) e Curtindo a Vida Adoidado (1986). Até mesmo as vinhetas dos estúdios de dublagem, como a famosa “Versão brasileira: Herbert Richers”, se tornaram parte do nosso imaginário.

Sem falar das adaptações mais ousadas que criaram pérolas exclusivas do Brasil. Não tem como esquecer de Yu Yu Hahusho (1992 a 1995): “Rapadura é doce, mas não é mole não”. Ou de Stallone Cobra (1986) — com a inacreditável frase “Você é um cocô e eu vou matar você!”, entre outras.

A produção audiovisual brasileira ganhou força nos últimos anos: mais espaço na TV fechada garantido por lei e serviços de streaming investindo em produção de conteúdo original por aqui. Como consequência, uma profissão passou a ganhar mais destaque: a do artista de voz e, assim, a consolidação da voz original no Brasil.

Dublagem e voz original

Dublagem é quando substituímos a voz do áudio original de um filme, série, jogo, desenho animado, etc., pela voz de um ator, falando em português. Mas estamos tão acostumados as adaptações de filmes e séries estrangeiros que chamamos tudo de dublagem — mesmo quando é uma produção original.

O ator dubla, adapta para a sua voz, a partir da obra pronta. O que não quer dizer que não haja um trabalho de criação e interpretação. E, claro, o dublador se torna parte do personagem na história da produção em cada país. É impossível pensar Bob Esponja ou Goku sem ser na voz de Wendel Bezerra; o Sylvester Stallone sem o Luiz Feier Motta; Homer Simpson sem a interpretação de Waldyr Sant’anna, que deu o tom do personagem no Brasil, e tantos outros.

Já a voz original coloca o artista de voz dentro do processo criativo desde o início. Melissa Garcia, que faz a Vovó Juju, do Irmão do Jorel, conta que as gravações são feitas antes da animação existir, e servem como material criativo para os artistas de storyboard e animadores:

Os atores têm total liberdade pra propor o que quiserem em suas performances. Minha sensação como atriz é que me exige mais fisicamente (por mais doido que isso possa parecer), eu saio com o corpo cansado de gravações de voz original, a gente fica propondo coisas diferentes até alguém pedir pra parar!

O ator por trás da voz original cria algo especificamente para aquela obra. A entonação, interpretação, servem para ajudar nas outras etapas da produção do projeto, consolidando as características do personagem.

Além de Irmão do Jorel, muitas animações brasileiras têm espaço garantido na TV e nos serviços de streaming, como Tromba Trem, Oswaldo, Peixonauta, entre outras. E algumas produções, como O Show da Luna, estão sendo exibidas mundo afora (a história de Luna, por exemplo, é exibida em 96 países).

E aí a diferença entre dublar e criar a voz original fica mais do que clara: os artistas de voz de cada lugar têm que dublar as nossas criações — cada um, interpretando de um jeito que os personagens se tornem únicos e relevantes em seu próprio país, sincronizando falas, esse trabalhão todo que nós fazemos por aqui — e muito bem — há décadas.

Mas, se ainda não ficou claro, vai mais um exemplo: no novo O Rei Leão, o ator e músico Donald Glover fez a voz original de Simba. É errado dizer que ele dubla o personagem. No Brasil, quem dublou o leão foi o ator Ícaro Silva.

Seja voz original ou dublagem, o que importa é entender a nossa cultura para criar algo único. E se já tínhamos algo para se orgulhar com as dublagens, agora temos também as nossas produções. “Come abacate, bem!”


Fonte: Jovem Nerd