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A Marvel busca histórias “verdadeiras e autênticas”, diz Sana Anamat, VP de quadrinhos

Sana Anamat, a vice-presidente conteúdos criativos da Marvel Comics, tem uma trajetória muito similar a uma das heroínas que ajudou a criar: Kamala Khan, a nova Ms. Marvel e primeira heroína muçulmana da editora.

Ambas nasceram em Nova Jersey, nos Estados Unidos, são filhas de imigrantes paquistaneses e tiveram um período em que rejeitavam a sua própria identidade e desejavam ser outra pessoa para se encaixarem nos padrões da sociedade. Com o tempo, elas encontraram o seu lugar sem deixarem de lado as suas origens.

Sana começou sua carreira nos quadrinhos em uma editora independente e acabou indo para a Marvel em 2009, justamente por ser alguém que poderia trazer uma visão diferente do que era feito. Além da Ms. Marvel, ela também supervisionou inúmeros quadrinhos de personagens clássicos, como Gavião Arqueiro, Demolidor e Capitã Marvel, e influenciou na remodelação dos mesmos.

Tivemos a oportunidade de conversar com Sana Anamat por telefone e ela contou um pouco sobre o atual momento da Casa das Ideias.

Como a Marvel escolhe suas histórias

A Marvel, assim como outras editoras, tem um histórico de transformar questões da nossa realidade em metáforas para os quadrinhos. Sana explicou um pouco sobre o processo para escolher as histórias que merecem ser contadas. Ela comenta que a equipe está constantemente avaliando o que está acontecendo ao redor, tentando colocar um pouco do mundo real nas HQs.

O que tentamos fazer é ver o que é real, o que é honesto, com o que nossos leitores vão se identificar e o que é uma história de super-herói ao mesmo tempo. Também, o que é importante aos nossos leitores e aos nossos artistas, e para todas as vozes dentro da Marvel, temos de garantir que diz algo para eles. Nós estamos constantemente avaliando o que engloba tudo isso e o que vai dizer algo para pessoas ao redor do mundo. Não sei se há necessariamente algo como um manual para esse tipo de coisa, é uma combinação de instintos criativos e intuição, e só o desejo de contar o tipo de história que diga algo para nossos criadores e público. E isso muda a cada nova vez que as fazemos. Desde que seja verdadeira e autêntica, e tenha uma mensagem positiva, nós vamos atrás dela.

Sana acredita que a questão da diversidade melhorou muito nos últimos anos, mas que ainda tem muito trabalho a ser feito. Ela cita, por exemplo, algumas das iniciativas que ajudou a criar e melhorar esse cenário:

Eu faço uma plataforma chamada “Women of Marvel”, em que fazemos um monte de painéis, podcasts, é totalmente sobre celebrar os diferentes tipos de vozes que nós temos na Marvel e as diferentes vozes que estão chegando na Marvel, sejam pessoas trabalhando em diferentes localidades, que escrevem, que são artistas. Nós também ressaltamos algo chamado “vozes da Marvel” que é dedicado às pessoas diversas que estão trabalhando com a Marvel também. Obviamente, é claro, não vou dizer que o trabalho nessa área acabou, ainda temos mais a fazer, mas acho que o ponto é que estamos tendo essas conversas.

Para mostrar que o trabalho não foi finalizado, Sana enfatizou que portas estão abertas para novas pessoas e que acredita que nos próximos anos, o cenário estará ainda mais diversificado.

Capa da HQ da Ms. Marvel
Recorte da capa da HQ da Ms. Marvel

Reações dos fãs

Claro que nem todos os fãs aceitaram bem essa diversificação de vozes e de protagonistas dos quadrinhos. Apesar do sucesso das histórias, existem alguns fãs avessos às mudanças recentes das HQs. Sana, entretanto, considera que se trata apenas de uma minoria vocal:

Acho que a maior parte das pessoas são positivas em relação a isso, eu acho que quem está bravo com isso é uma minoria vocal. Preferimos nos focar nas pessoas que estamos trazendo para nós, pessoas que estão animadas. Não estamos tentando tirar os personagens e histórias favoritas de ninguém, estamos almejando adicionar mais pessoas, mais personagens, mais histórias, mais complexidade.

Ela também vê um futuro positivo pela frente e consegue enxergar um lado bom até nas críticas negativas:

Estou esperançosa de que as pessoas vão, em sua maioria, aceitar esses tipos de histórias. Acho que elas já o fizeram. Sempre que fazemos qualquer coisa, sempre que criamos algo, há alguma força empurrando na direção contrária. Eu acho que vejo como “ei, essas pessoas estão prestando atenção na gente, e elas se importam o suficiente para ter uma opinião, mesmo que seja negativa”.

Toda essa positividade é justificada. Uma das personagens que Sana ajudou a criar, Kamala Khan, a nova Ms. Marvel, está se preparando para dar passos ainda mais largos. A heroína vai aparecer no jogo Marvel’s Avengers, que Sana ofereceu consultoria, e vai ganhar a sua própria série de TV na Disney +. Entretanto, a VP de quadrinhos não pôde compartilhar muitos detalhes sobre este último projeto, já que ele ainda está em uma fase inicial.

O que ela pôde contar de fato foi como enxerga Kamala no futuro das HQs. Ao ser questionada se acha que a jovem heroína pode inspirar uma nova geração de heróis, Sana comentou que é justamente isso que ela deseja:

Sempre brinquei que espero que a Kamala Khan seja o nosso próximo Homem-Aranha. […] Genuinamente espero que ela se torne uma parte maior do universo Marvel, que ela inspire uma geração de fãs e eu espero que outros autores façam sua própria versão da Kamala. Eu só posso torcer, já mal posso acreditar que chegamos tão longe, então vamos ver o que acontece nos próximos dez anos.

Antes de encerrar a entrevista, Sana também deixou um recado para os fãs brasileiros:

Gostaria de dizer, primeiro, obrigado por mostrar seu amor pela Marvel. Ter fãs da Marvel ao redor do mundo é realmente incrível e é por isso que fazemos o que fazemos e o motivo de contarmos as histórias que nós contamos. De verdade, muito obrigada.


Fonte: Jovem Nerd