Originalmente lançado em 2001, Onimusha: Warlords é um dos diamantes de uma era dourada para a Capcom, que também deslumbrava o sucesso de Devil May Cry, quase da mesma escola de Onimusha – e ambos aprendizes do mentor Resident Evil, cujos detalhes de bastidores vão muito além de um mero Devil May Cry que nasceu de uma versão cancelada de Resident Evil.
As similaridades entre Onimusha e Resident Evil são gritantes: câmera estática, controles em tanque e atmosfera lúgubre, com direito a um silêncio sepulcral nos momentos de mais suspense, constroem um ambiente familiar aos fãs do gênero, que, no caso de Onimusha, passeia por ação, terror, survival e hack’n’slash.
Pensando em despertar a franquia e apresentá-la a um novo público, a Capcom lançou o primeiro título da série em tratamento remasterizado para PS4, Xbox One, Switch e PC. Eu quero ser otimista o suficiente para pensar que esse reencontro significa algo maior. Mas, por enquanto, façamos uma leitura da remasterização de Onimusha: Warlords.
Nostalgia vs. atualidade: pesos opostos
Estudos científicos sempre apontam que a nostalgia é um sentimento mais forte do que nosso senso crítico permite constatar. Olhando friamente, Onimusha para sempre será Onimusha; é uma fórmula imutável, nada ou ninguém muda isso. Mas, ao colocar esse peso ao lado daquilo que uma remasterização precisa oferecer, a balança se torna, digamos, um tanto quanto capciosa.
Primeiramente, vamos ao contexto mínimo para quem não conhece a franquia: Onimusha Warlords conta a história do samurai Samanosuke Akechi e da ninja Kaede numa missão para resgatar uma donzela, a Princesa Yuki, de uma legião de demônios que invadiram o Castelo de Inabayama.
Na jornada pelo local, os dois descobrem uma trama maligna por parte dos servos de Oda Nobunaga, lorde feudal amplamente difundido na história mundial em suas glórias militares para tentar conquistar o país asiático. Nobunaga ganhou status “mitológico” ao longo da história e é comumente ilustrado em jogos que tenham essa temática. Ele também aparece em Nioh, por exemplo.
Up no visual e nos controles sem ambições
Para entregar essa experiência nas plataformas atuais, a Capcom aplicou um aumento na resolução, de forma que o maior número na contagem de pixels permite uma visualização minimamente nítida aos padrões de hoje. Mas a remasterização não vai muito além disso.
As animações, por exemplo, poderiam ter recebido mais polimento, principalmente nas mãos. Ninguém aqui está exigindo um “redesenho” poligonal ou coisas do tipo, é apenas uma remasterização; mas a equipe poderia ter feito ajustes finos nas mãos, que ficam “trêmulas” em diversos diálogos nos quais os personagens gesticulam com os braços para se expressar, algo muito comum nos títulos daquela época, em que não havia tecnologia suficiente para entregar expressões faciais tão bem recriadas quanto as atuais.
Além disso, há uma severa falta de sincronização labial em diversos diálogos. Nem há como haver uma riqueza de detalhes nas bocas dos personagens para os padrões gráficos daquela época, e nem precisa, mas elas se movimentam com atraso ou adianto em muitas conversas. Também não há textos em português brasileiro.
Em outras palavras, parece apenas um “Onimusha HD” mesmo, prática que foi comum na geração passada, quando diversos jogos do PS2/Xbox/GameCube foram relançados em alta definição para o PS3 e o Xbox 360. Onimusha: Warlords é isso, só que entregue na atual geração. Não faz pleno uso das capacidades dos consoles mais parrudos, por exemplo; não tira nenhuma vantagem do 4K no Xbox One X ou no PS4 Pro. Ainda assim, como citei anteriormente, trata-se de um visual “ok”, jogável na atualidade, o arroz com feijão feito sem nenhum tempero secreto, mas eficiente para matar a fome.
O gameplay, em contrapartida, ganhou um balanceamento mais interessante: além do clássico controle em tanque, os personagens podem ser conduzidos pelo analógico esquerdo, o que, na verdade, se traduz num “facilitador” para os momentos mais frenéticos de algumas batalhas que exigem agilidade na movimentação – mas essa era uma adição imprescindível mesmo. O controle tankão ficou alocado no D-Pad, para quem é raiz extremista.
Trilha sonora reformulada e sistema Honor
A dificuldade Easy está acessível desde o início e serve como um termômetro para os novatos de plantão, mas como há um aspecto facilitador decorrente da modernização dos controles, invista no Normal em sua primeira jogatina para uma experiência equilibrada.
Também há uma nova trilha sonora e um sistema inédito chamado “Honor”, que monitora ações específicas realizadas dentro do jogo.
De resto, tudo está ali intacto: o foco em combate corpo a corpo, a Oni Gauntlet para absorver almas de inimigos mortos e os puzzles, menos numerosos do que os jogos correligionários da época em prol de mais batalhas.
Vale?
Enquanto Onimusha, a aventura será sempre um 90. Um título excelente, com as ressalvas que lhe são cabíveis para a época, mas inspirada em grandes mentores e com uma fórmula que mistura vários elementos bem aplicados.
Enquanto remaster, é um produto bom. Carece de ambição e de polimento, não tem textos em português brasileiro e é BEM raiz em alguns pontos cruciais – não dá para pular CGs, por exemplo. Toda vez que você morre e tem de repetir um determinado trecho precisa ver todos os acontecimentos de novo sem poder avançar.
Ainda assim, Onimusha: Warlords é a melhor carta que você poderia receber para revisitar uma das melhores franquias do limiar deste século. Um brinde aos veteranos e um convite aos novatos. Que esse relançamento seja uma espécie de “teste” para a Capcom estudar os anseios dos jogadores por uma nova entrada da franquia. E, enquanto ela não sai, pode trazer de volta Onimusha 2, Onimusha 3 e Dawn of Dreams.
Portanto, façamos a nossa parte.
Fonte: Voxel