Meio atrasado por conta de alguns imprevistos na semana passada, mas cá estamos nós, prontos para falar desse anime que carrega uma das temáticas que mais gosto, e que agora, com três episódios, já demonstra muito do que pode oferecer de sua história.
Acho que não tem como começar a falar de Dororo sem dizer que a ambientação da obra, até aqui, é uma das coisas que tem mais me feito gostar do anime.
A mitologia oriental é bem rica e diversificada, com criaturas e contos que por si só já seriam interessantes de acompanhar, mas ligada a um ambiente de guerra faz com que tudo tome um ar ainda mais intrigante.
Dororo conseguiu apresentar isso de forma bem satisfatório no primeiro episódio, mostrando a origem do pacto que um dos Lordes do Japão fez para conseguir poder, e um pouco de como isso afetou a vida do protagonista.
Essa apresentação da história também foi algo que gostei bastante, por seguir uma estrutura que te deixa curioso para saber como as coisas vão terminar.
O enredo vai te dando algumas dicas simples do que está acontecendo e, aos poucos, você vai ligando os pontos para entender como o protagonista conseguiu sobreviver, e se torno aquele garoto com partes artificiais.
A forma como o episódio também se fecha, mostrando o personagem recuperando a pele do rosto, faz com que a curiosidade acabe surgindo para tentar entender como aconteceu aquilo, por mais que seja um pouco intuitivo.
Isso cria uma apresentação bacana para o anime, intercalando alguns momentos mais tensos, como o nascimento do bebê, e outros de ação, como a luta na ponte, sem perder um pouco do ar descompromissado, trazendo o Dororo como uma especie de alivio cômico.
Além disso, outra coisa que achei interessante na concepção da história, é a forma como ela busca trazer algumas reflexões sobre o mundo em que os personagens vivem.
Isso fica mais presente no segundo e terceiro episódio, onde existem mais exemplo de como a brutalidade da sociedade em que eles estão se tornou algo que vai muito além de uma guerra.
Como o próprio Dororo disse, as atitudes do líder da vila eram tão monstruosas quanto as do Ayakashi que estava ali para devorar as pessoas.
Mesmo com tantos perigosos em volta, os humanos ainda conseguem representar um dos maiores problemas para si mesmo, e em como isso se reflete no ambiente em que eles estão.
Guerras podem trazer batalhas empolgantes, mas também carregam muito desse lado desumano, e o anime conseguiu mostrar isso com campos de batalhas repletos de corpos, e essa luta, muitas vezes desleal, que os cidadãos passam no dia a dia.
Os flashbacks do Jinkai, por sua vez, mostrar essa perspectiva mais humana da história, tanto sobre a violência com que as ameaças ao governo eram tratas, com pessoas sendo mortas e torturadas, assim como a maneira que ele mesmo acaba se enxergando como um monstro após passar por tudo aquilo.
A maneira como ele encontra uma forma de tentar compensar pelo que fez também é bem bacana, e faz com que o passado do personagem junto do protagonista seja bem legal.
A história não chega a abandonar completamente os conceitos de maniqueísmo (até porque é bem nítido a luta entre bem x mal ali), mas através de situações simples como essa, consegue criar condições bem subjetivas ao real comportamento humano, e como não precisa de criaturas místicas para se levar o mal por aí.
Aproveitando, os personagens também se mostraram bem interessantes. O Hyakkimaru não fala muito, mas, devidos as condições em que foi colocado, consegue trazer um carisma legal para obra.
E quando junto do Dororo, faz com que o tempo passado entre os dois seja divertido e curioso, já que cria uma certeza relação de aprendizagem entre ambos.
Já para o lado do Lorde japonês, ainda não tem muito o que falar, mas já dá para criar uma certa antipatia com o personagem por conta das atitudes que ele tomou no primeiro episódio, assim como o seu filho não deve fugir muito disso (tem uns spoilers na opening, afinal).
Para completar, não dá para deixar passar batido alguns pontos mais técnicos.
Uma das coisas que me incomodou um pouco durante esses três episódios foi a necessidade de, em certos casos, ter que usar muito da suspensão de descrença para aceitar o que o Hyakkimaru está fazendo.
A falta de visão dá para ser superada por conta dos poderes em enxergar almas, mas tem certas coisas que soa meio impossíveis de acontecer sabendo que ele não podia ouvir nada, como por exemplo a escolha de sair viajando o mundo como se tivesse entendido a recomendação do Jinkai, ou em como ele parece consciente demais sobre os estão falando em volta.
Fica um clima meio que exagerado na intuição que o protagonista tem, o que pode incomodar um pouco quem gosta de seguir uma lógica mais realista para essas aprendizagens.
As próteses também podem ser outra coisa que pode acabar chamando atenção, já que, para o período história, algumas ações que o protagonista faz, como por exemplo, pegar o garoto antes de cair, ou se agarrar em arvores, acaba sendo meio complexa para a tecnologia da época.
Nota do editor: Próteses de madeira até hoje não tem grande movimento, e obviamente não tem como responder a estímulos musculares. Aquilo foi viagem do autor e infelizmente o roteiro do anime não conseguiu justificar, então apenas ignorou e deixou rolar. Se o cara fosse um mago e tivesse algo de sobrenatural nas próteses seria mais crível o protagonista ter uma mobilidade tão grande, por exemplo.
Já em relação a animação, as lutas tem sido bem feitas. Nada muito grande, mas também não pecam muito nas coreografias.
Os cenários também ficaram bem bonitos, puxando mais para um lado mais clássico, o que combina bem com o clima da obra, assim como as OSTs encaixam bem com o ambiente de Japão feudal que o anime trás.
Dororo se mostrou uma anime bem interessante de acompanhar por esses três episódios. A história parece bem promissora, daquelas que você sente que as coisas podem ficar mais intrigantes a medida em que o tempo avança.
Agora é esperar que isso não se perca, e o anime consegui se manter assim até o final.
Extra
E você, que nota daria ao anime?
Pelo que dá para entender, a medida em que ele for recuperando as partes do corpo vai se tornar mais humanos. O sentimento de dor já deve fazer uma boa mudança no estilo de luta dele, imaginando quando ele recuperar os outros sentidos e for bombardeado pelas sensações.
Fonte: IntoxiAnime