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Humankind coloca a história nas mãos do jogador

Saindo da zona de conforto e atendendo a uma vontade da própria equipe, o estúdio Amplitude, responsável por títulos de estratégia como Endless Space e Endless Legend, está desenvolvendo Humankind, um jogo de estratégia que usa como base algo que estamos bem acostumados a ver: a história da humanidade.

Enquanto os games da série Endless colocam o jogador para explorar e conhecer um universo fantástico, com possibilidades infinitas, o novo título vai pelo caminho oposto. A ideia surgiu há cerca de três anos, quando a equipe começou a pensar em um jogo cujo gameplay e condição de vitória não fossem limitados pela facção escolhida. Outro ponto que motivou a criação de Humankind foi a vontade de representar os fatos históricos de um jeito menos vinculado à mecânica, e, por isso, o que realmente importa no game é ser lembrado por grandes feitos.

Participei de uma sessão de testes do Humankind, com direito a comentários dos desenvolvedores e tudo. Joguei cerca de duas horas — levei meia hora para entender o que estava acontecendo (comandos, unidades, escolhas, construções, bônus…). Depois de pegar o jeito, uma vez que não tenho tanta experiência com títulos de estratégia 4X, comecei outra partida para fazer toda a campanha da demonstração, que englobava uma das seis eras prometidas na versão final.

O que é 4X?

O 4X é um subgênero dos jogos de estratégia, que mistura tanto jogabilidade por turnos quanto em tempo real. O objetivo é construir um império, com ênfase em desenvolvimento econômico e tecnológico, oferecendo alternativas não-militares para a vitória.

Se você não está familiarizado com o gênero, a primeira impressão de Humankind pode ser um pouco intimidadora. São muitas informações na tela, porque você deve gerenciar muita coisa ao mesmo tempo, mas basta um pouco de prática e uma quantidade razoável de leitura das descrições e menus para pegar o jeito. Na minha primeira sessão, investi um tempo lendo as ferramentas e objetivos, entendendo os menus e também o sistema único de fama do jogo — que também é o que determina quem sairá vencedor da partida.

Passado o choque inicial, as mecânicas fazem sentido e tanto os comandos quanto os objetivos tornam-se bastante claros, e gerenciar três cidades enquanto manda dois grupos de soldados explorarem o mapa vira algo trivial.

Deixando uma marca no mundo

Em Humankind, o objetivo não é destruir completamente todas as outras nações, e sim conquistar o maior número de fama, ou seja, vence quem deixa o melhor legado para as eras futuras. Para conquistar estrelas de fama e garantir sua sobrevivência através das eras, os jogadores precisam completar objetivos diversos que são compartilhados entre todos os impérios — se alguém pegar a recompensa por um desses objetivos, os outros não poderão recebê-la, mesmo se o cumprirem também.

Um jogador pode decidir investir mais tempo em uma era para desenvolver melhor sua população e seus recursos, ganhando assim mais estrelas de fama antes de partir para a próxima fase do mundo. Ao todo, são seis eras distintas, cada uma com um mínimo de condições para poder avançar.

A tela da civilização mostra o progresso de objetivos para a próxima era

Em cada início de era, o jogador pode escolher entre dez culturas diferentes para agregar à sua população. Cada cultura possui uma característica única que traz benefícios específicos como bônus de comida ou ciência, ou até exércitos mais fortes. Além disso, cada uma delas possui ao menos uma unidade única, somando mais de 300 no total.

Apresentando a história

Como é de se imaginar, houve um grande trabalho de pesquisa histórica por trás de Humankind. O estúdio estava acostumado a fazer jogos no universo próprio, e então quando a equipe decidiu focar em acontecimentos reais, o trabalho mudou — principalmente para Jeff Spock, o diretor de narrativa. “A pré-produção mudou muito”, contou, durante entrevista ao NerdBunker. Segundo ele, a ideia era inserir uma boa dose de representatividade, saindo do senso comum:

Queremos ter a América do Sul, Central e do Norte durante o jogo inteiro, a África no jogo inteiro, quando tipicamente jogos 4X são muito centralizados na Europa e no Oriente Médio no começo, talvez um pouco da Ásia. Realmente queremos quebrar isso.

Recontar a história da civilização humana parece meio limitador depois de desbravar universos fantásticos que poderiam ser moldados de acordo com os desejos do diretor de narrativa. É possível até imaginar que alguma liberdade criativa tenha sido perdida na hora de trabalhar em cima de algo que já existe, mas Spock garante que não. “O que é curioso é que temos mais conteúdo narrativo em Humankind do que nos nossos outros jogos”, contou brevemente, antes de se aprofundar no sistema de eventos do jogo, responsável por levar trechos da história ao jogador.

Os eventos podem ser ativados por descobertas no mapa, troca de era ou outros fatores

Os eventos são baseados em acontecimentos reais, sejam eles invasões, pragas, a escravidão, prisioneiros de guerra, entre outros. Tais eventos podem ser desencadeados pela era, por avanços tecnológicos ou até mesmo por descobertas no mapa, que podem ser feitas por jogadores ou pelos inimigos controlados por computador. Todo esse conteúdo de momentos memoráveis está disponível dentro do jogo — mas pode ser que você não veja nada disso, caso não tome decisões que os desencadeiem durante a partida.

Outro fator determinante são os “Civics”, decretos que são escolhidos pelo jogador de tempos em tempos. Os “Civics” funcionam mais ou menos como uma ideologia, como uma diretriz geral do império. Um exemplo é escolher entre recrutar pessoas para lutar por você e por suas terras, o que diminui o tempo de espera por uma nova unidade, ou criar soldados desde pequenos para compôr o exército local, o que faz com que eles sejam mais fortes.

Escolhas de Civics permanecem ao longo das eras

As escolhas feitas nos Civics costumam ser irreversíveis, mas é possível que outras civilizações influenciem sua população a exigir mudanças. Isso deve-se à mecânica de diplomacia do jogo, que avalia a proximidade de outras cidades, eventos culturais e religiosos para determinar o grau de influência que as outras nações podem ter sobre a sua.

Toda decisão tomada terá um impacto, que pode acontecer em poucos turnos ou em eras futuras — e tudo depende do jogador. Segundo Jeff Spock:

Há um monte de conteúdo narrativo ali dentro, mas o que é interessante é que é guiado pelo jogador, e não pelo designer.

O presente e o futuro

Para ajudar a moldar o produto final, o Amplitude Studios adotou um modelo de OpenDev para Humankind, o que significa que a comunidade pode testar aspectos específicos do jogo e dar feedback diretamente para a equipe.

A opinião dos jogadores é um fator importante para Spock e os desenvolvedores, que têm a missão de “manter o jogo vivo”. Apesar de não ter nem uma data para chegar aos consumidores, a equipe planeja conteúdos extras para manter o game atualizado através de DLCs pagas e gratuitas, com a possibilidade de adicionar novas culturas, eventos mundiais e mais mesmo depois do lançamento.

Uma das possíveis atualizações é o suporte ao idioma português, que não estará disponível no lançamento, mas pode ser implementado posteriormente, caso haja demanda do público.

Humankind promete entregar uma experiência única a cada partida, incentivando os jogadores a explorarem diferentes facetas da história humana para reconhecer os eventos mundiais que construíram o mundo como o conhecemos. Com foco na comunidade, o jogo parece ter tanto espaço para crescer quanto a humanidade em que é inspirado.

Humankind será lançado para PCs em 2021.


Fonte: Jovem Nerd