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The Outer Worlds | Review

De vez em quando, você não sabe que precisa ou quer alguma coisa até tê-la em suas mãos. The Outer Worlds foi mais ou menos isso para mim. Quando o jogo foi anunciado, fiquei intrigado com as possibilidades, mas quando finalmente joguei, percebi como este é um RPG que me fazia muita falta.

O potencial ficou claro para mim desde seu primeiro trailer. Lembro de ler comentários como: “é Fallout no espaço!” E não estava exatamente incorreto. O título, publicado pela Private Division, foi desenvolvido pela Obsidian Entertainment, o mesmo estúdio responsável por Fallout: New Vegas, considerado por muitos fãs o melhor da série, na era 3D. Mais do que isso, o projeto foi dirigido por Tim Cain e Leonard Boyarsky, os criadores da franquia. Este definitivamente não é um joguinho qualquer.

Em vários sentidos, The Outer Worlds entregou muitas que Fallout 4, o mais recente, parece ter deixado de lado um pouco, desde as situações e personagens absurdos que ajudam a estabelecer um humor tipicamente mórbido, até a forma como suas decisões e suas conversas com outros personagens podem definir o curso da história de um jeito nem sempre preto no branco. Às vezes simplesmente não existe lado certo ou errado e são justamente estes momentos, que desafiam nosso alinhamento moral, que me atraem mais neste tipo de RPG.

Distopia corporativa

Na história, seu personagem é um dos milhares de colonos congelados a bordo da nave Esperança, mas o único da tripulação a ser reanimado pelo excêntrico cientista Phineas Wells. Ao acordar, você descobre que está diversas décadas atrasado e que as coisas estão bem estranhas.

A colônia Bonança, situada em um sistema solar distante, é comandada principalmente por empresas, com o Conselho, que é basicamente uma grande corporação, servindo como o governo. Como se isso não bastasse, há uma conspiração para acabar com tudo isso.

The Outer Worlds
Em Bonança, as grandes corporações são a lei.

Este cenário gera inúmeras situações absurdas, com pessoas aceitando ou até mesmo defendendo condições de vida impensáveis. Por exemplo, existe uma comunidade nesse universo na qual os habitantes são propriedade de uma empresa, incluindo suas vidas e seus corpos. Eles estão fadados (por contrato) a recitarem slogans e trabalharem para sempre ali. Se alguém fica doente ou morre, é porque não se esforçou o bastante.

Tudo isso é apresentado de forma geralmente cômica, mas ao mesmo tempo crítico o bastante para nos fazer pensar. Para nós parece estranho, mas aquelas pessoas defendem isso. É o jeito que elas acharam para sobreviver. É exagerado? Sim. Mas será que estamos tão distantes assim desta realidade? Será que nós, como parte da sociedade, não praticamos ou aceitamos um pouco disso todos os dias?

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Um pensamento comum na cidade de Pontágua.

Por um lado, o conceito é algo tão ridículo que não dá para levar a sério. Por outro, é algo bem sério com o qual você, o jogador, precisa lidar. Este tipo de situação quase paradoxal é um dos elementos que tornam o mundo do jogo tão envolvente e interessante.

Os habitantes da colônia são quase todos intrigantes. Tem gente de todo tipo: seja uma gentil senhora que trabalha no submundo com espionagem empresarial, um pobre vendedor obrigado a usar um capacete em forma de lua por toda sua vida (está no contrato) ou até uma estilista excêntrica de uma cidade rica que decide usar o protagonista como modelo.

Como qualquer bom RPG, o jogador tem liberdade para decidir como lidar com estas pessoas e com os problemas de Bonança. Seja tentar fazer o melhor para todos, buscar apenas o bem próprio ou simplesmente causar caos completo. Aliás, não fiz isso, mas os desenvolvedores afirmam que é possível até mesmo matar todos os NPCs, incluindo os importantes da história, sem travar seu progresso na campanha. Estou muito interessado em tentar para ver o resultado.

Faça do seu jeito

Seja lá como você decidir lidar com as incidências do espaço, geralmente há três maneiras de fazer isso: conversando, agindo de forma furtiva ou atirando em tudo e todos. O quão efetiva será sua abordagem dependerá dos seus atributos e habilidades, definidos tanto ao criar seu personagem quanto ao passar de nível.

The Outer Worlds
Seus atributos ajudam a definir quem você é.

Cada um deles determina como você interage com o mundo. Alguém com muitos pontos em Persuasão, Mentira e Intimidação, por exemplo, provavelmente será capaz de lidar com a maior parte dos confrontos na base do diálogo. Já habilidades como Hacking, Gazua e Esgueira são perfeitas para quem deseja saquear ou obter informações secretas com facilidade.

Neste sentido, a mecânica dos atributos funciona de forma parecida com Fallout, embora eu sinta que seja de uma forma levemente mais rasa. Apesar de eu ter Ciência, Engenharia e Medicina altas, por exemplo, senti que estas habilidades não são tão versáteis em The Outer Worlds. Eventualmente decidi parar de gastar pontos nisso para focar em habilidades de diálogo, que me pareceram mais úteis.

A customização de personagens também é bem mais simplificada, quando feita uma comparação entre as duas franquias. Os Talentos funcionam como os Perks de Fallout, mas não afetam tanto o personagem, servindo mais como uma ajudinha do que algo realmente necessário. Nenhum deles altera sua maneira de jogar de forma muito significativa.

É possível ganhar Falhas, dependendo do que acontece ao longo de sua jornada, mas cabe a você aceitá-la ou não. Por exemplo: caso tome muito dano de robôs, talvez desenvolva uma fobia de máquinas. Cada defeito diminui certos atributos, mas concede um Ponto de Talento. Achei muito interessante esta mecânica, por funcionar de forma dinâmica, mas não vi motivo nenhum para aceitar nenhuma das Falhas sugeridas para mim, já que os Talentos disponíveis não compensam as desvantagens.

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Fui pego infringindo as leis do Conselho várias vezes, então isso virou uma Falha (que eu recusei).

Em termos de combate, o jogo funciona como um FPS, e ele é bastante competente neste sentido, embora nada excepcional: basicamente é só mirar e atirar. O único diferencial é uma habilidade especial de desacelerar o tempo, chamada DTT. Ao usá-la, tudo fica mais lento e seus ataques desequilibram os inimigos, deixando-os vulneráveis, além de ser possível analisar os adversários para identificar pontos fracos. Ela dura pouco, mas pode fazer toda a diferença na hora de sair de uma situação difícil.

O funcionamento dos equipamentos é bem direto: você pode utilizar um capacete, uma armadura e até quatro armas, além de instalar algumas modificações em cada peça, embora isso seja pouco essencial.

A variedade de armas não é lá muito grande e o funcionamento delas é sem firulas. Há basicamente rifles, metralhadoras, pistolas, escopetas, lança-granadas e armas brancas de uma ou duas mãos. Cada uma pode dar dano de concussão, de eletricidade ou de plasma. Além disso, há três tipos de munições universais: leves, pesadas e de energia. Bem simples e direto.

No entanto, também existem as Armas Científicas, que não são fáceis de achar, mas podem tornar as coisas um pouco mais interessantes. Embora o dano delas seja baixo, cada uma tem um efeito maluco e inusitado, como uma pistola capaz de diminuir o adversário ou um bastão que aleatoriamente reconfigura o rosto da pessoa atingida.

Se não quiser, você não precisa viajar por aí sozinho, já que dá para contar com a companhia de aliados bastante úteis no combate e fora dele. É possível recrutar até seis, mas apenas dois podem ser levados para campo por vez. Os outros ficam na sua nave, a Falível (é, significa exatamente o que parece). Além de ajudar nas brigas, eles podem fortalecer certos atributos, fazer comentários sobre o ambiente, conversar entre si, dar opiniões sobre suas escolhas e até participar de seus diálogos com outros NPCs. Descobri que andar com parceiros deixava minhas aventuras pela colônia muito mais divertidas.

É sempre bom ter a companhia de aliados!
É sempre bom ter a companhia de aliados!

Por falar nisso, os cenários de Bonança são diversos e têm bastante coisa para ver. Em vez de contar com um grande mapa, The Outer Worlds permite que você viaje para diferentes planetas e locais, cada um com um pequeno mundo aberto para explorar. São ambientes bastante variados, um mais bonito e curioso que o outro.

Mas isso também significa que sua exploração se torna um pouco mais linear, quando comparada a outros jogos de mundo aberto, já que é preciso desbloquear alguns destes locais antes de poder viajar para lá à vontade. Não fiquei muito incomodado com isso, mas algumas pessoas podem não gostar muito desta progressão.

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Bonança é cheia de cenários exóticos. Este é o Vale Esmeralda, o primeiro que você verá.

Ao infinito e além

Talvez esta conversa de mecânicas simplificadas e mapas menores faça parecer que The Outer Worlds é um jogo fraco, mas não é. Por um lado, seria legal poder customizar mais meu personagem com vários equipamentos e habilidades. Por outro, a abordagem objetiva me permitiu ficar completamente focado na ação e no mundo, sem um monte de mecânicas complicadas para me prendendo em um menu pouco interessante.

Apesar de não aprofundar algumas mecânicas, o título é bastante competente em praticamente tudo o que faz. Ao mesmo tempo, ele se destaca por sua apresentação e esbanja carisma e criatividade através do mundo, da história e dos personagens.

Como disse no início, é o tipo de jogo que eu sentia falta de jogar e não percebia. Recomendo fortemente para qualquer fã de Fallout ou de bons RPGs em geral. Ele me conquistou com sua ambientação e sua narrativa envolvente. Foi mais curto do que eu esperava — terminei a campanha e todas as minhas missões opcionais ativas em cerca de 40 horas — mas não ficou devendo em nada e me senti satisfeito com a experiência.

Apesar disso, se eu puder me aventurar de novo neste mundo algum dia, com certeza vou ficar contente. O universo desta nova franquia certamente ainda tem muito mais história e lugares para serem explorados. Com a compra da Obsidian Entertainment pela Microsoft, quem sabe o tipo de coisa que o estúdio pode fazer no futuro, com uma possível sequência? Ficarei na torcida!


The Outer Worlds será lançado em 25 de outubro, para PC, Xbox One e PlayStation. Uma versão para Nintendo Switch também foi anunciada, mas ainda não tem data anunciada. Este review foi feito com uma cópia para PlayStation 4 cedida pela Private Division.


Fonte: Jovem Nerd