Thunder Cheats

Um papo com Owen Dennis, criador de Trem Infinito, sobre a arte de contar histórias

Trem Infinito me pegou já no trailer: a história de uma menina aventureira (Tulip), viajando por lugares malucos, psicodélicos, com a companhia de um robô que alterna personalidades (foi isso que eu havia entendido) e um cão da raça corgi (um rei, na verdade), tudo isso dentro de um trem com infinitos vagões. Cada vagão, uma paisagem e um cenário para uma aventura diferente.

Fisgado, resolvi assistir à primeira temporada e fui surpreendido positivamente com uma história fechadinha, personagens carismáticos e alguns mistérios que obrigavam a maratonar a série, já de início: o que era o contador no pulso de Tulip? Como ela sairia do trem? E outros que vão sendo acrescentados com o avançar da trama (e que não vou mencionar para não estragar a experiência).

Atticus, Tulipe e One

Ao final dos dez episódios, estava satisfeito com o que vi, mas ainda queria mais. Sentia que poderia ter mais coisas sobre aquele universo. E fiquei feliz em saber que uma segunda temporada havia sido encomendada. E quando tive a oportunidade de entrevistar Owen Dennis, o criador da série, comemorei por aqui — é muito legal poder conversar sobre algo que você gosta com quem criou aquele mundo! Além disso, era uma ótima oportunidade para tirar algumas dúvidas.

Conversamos por telefone e o resultado desse papo você confere abaixo:

NerdBunker – Todo episódio tem uma mensagem, uma lição que o espectador pode refletir. Fazia parte do projeto, desde o início, que cada episódio tratasse de um tema do nosso dia a dia, do tempo em que vivemos?

Owen Dennis –  Sim. Eu acho que quando queremos contar uma história, a gente quer que tenha sentimentos fortes, significados fortes, mensagens fortes, e que se saiba exatamente o que quer dizer para pode fazê-lo do melhor jeito possível. Eu acho que isso é especialmente comum em sci-fi.

As melhores histórias do gênero têm uma mensagem social ou algum tipo de mensagem maior que a ficção cientifica consegue retratar.

Como foi o processo para transformar a ideia em realidade? O Cartoon Network se mostrou receptivo logo de início? Como foi exatamente?

Eu acho que não foi especialmente difícil dessa vez, principalmente por causa do sucesso de Over the Garden Wall, que as pessoas realmente gostaram. Então, na verdade, eu mostrei uma ideia que era parecida com o que já tínhamos feito: uma série fechada, com apenas dez episódios.

E quando você propõe algo mais curto, as empresas aceitam melhor, elas não têm que se preocupar: ‘Ah, certo, vamos nos preparar para 100 episódios’, o que é um gasto financeiro grande. Então, algo menor, único, eles podem trabalhar de forma diferente, como um evento especial, divertido.

Owen Dennis, criador de Trem Infinito

Você acha que é mais fácil ou mais difícil produzir episódios mais curtos, com cerca de 11 minutos, em vez do “tamanho padrão” da indústria, de cerca de 22 minutos?

Eu gosto de fazer episódios de 11 minutos que tenham uma história mais abrangente, um arco maior geral. Eu gosto disso porque quando você só tem 11 minutos você tem que ficar muito, muito focado.

Então, sua história tem que ser direta porque é tão curto: qual é conflito do personagem principal, o que está acontecendo com ele e o que está no caminho dele — e é isso! Não há tempo para ir em outras direções, de ter uma ‘história A’ e uma ‘história B’, nada assim.

E quando você tem episódios de 22 minutos você tem mais tempo, e eu acho que isso pode atrapalhar a história principal.  Quando você tem um desenho de 11 minutos, com o arco mais abrangente, faz com que você possa ter a história geral acontecendo ao mesmo tempo em que você super foca em alguns poucos personagens. Eu gosto, gosto muito!

Se você assistia um desenho dos 80 e até 90, você sempre tinha um vilão e o herói, o lado bonzinho e o malvado. Trem Infinito mostra mais lados de cada personagem, ninguém é só mau porque é mau e pronto. Isso é uma mudança que aconteceu em nossa época com muitas outras animações. O que você vê para o futuro ao trabalhar com desenhos, que mudanças podemos esperar?

Sabe… Não tem preto e branco, não tem algo perfeitamente mau ou bom. O mundo é muito cinza. Há muitas direções que você pode ir e que você não sabe aonde vai chegar, qual decisão tomar… Então acho importante garantir que as pessoas entendam isso, especialmente com a internet.

As coisas estão muito: ou você ama tal coisa ou odeia tal coisa! Eu acho que não é assim que mundo funciona de maneira geral. Então, eu torço para que o futuro de todo storytelling, não só em animação, mas em todos os filmes, todos os programas de TV, que todos falem sobre o cinza. Acho isso importante.


A segunda temporada de Trem Infinito já estreou nos Estados Unidos. A previsão é de que estreia o Brasil ainda no primeiro trimestre.


Fonte: Jovem Nerd
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